Congresso Caminhos de Santiago e de Peregrinação
Congresso em homenagem ao prematuramente desaparecido Eng. José Mouro Pinto, um caminheiro apaixonado pelos Caminhos de Santiago e um impulsionador do reconhecimento e valorização do caminho romano-medieval que ligava Viseu a Braga.
Pretendeu-se com as diversas comunicações discutir o território por forma a melhor permitir problematizar a questão dos Caminhos de Santiago e de Peregrinação na região.
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O Territorium de Tongobriga
Tongobriga foi uma cidade romana construída no século I depois de Cristo, como resultado da política do Imperador Augusto e, depois, estratégia dos Imperadores flavianos para o Noroeste da Hispânia.
A importância estratégica, manifestada pela influência na dinâmica económica, social e política da região, manifesta-se no estatuto de civitas, entendida como capital administrativa de um território, no final do século I depois de Cristo.
Há que salientar que a estrada, que serve de suporte ao nosso projeto, atravessava e irradiava de Tongobriga, ligando duas capitais provinciais romanas, Bracara a Emerita, tornando-se por isso uma via estratégica e de interesse interprovincial entre a Galécia e Lusitânia.
Os percursos romanos foram estudados nas décadas de 80 e 90 do século XX e sobre elas foram publicados vários trabalhos com indicação cartográfica.
Suportado nestes trabalhos, analisando-os cuidadosamente, o Engenheiro Técnico Agrário José Mouro Pinto, com a sua vocação de caminhante, dedicação e especialização para observar a natureza, iniciou o estudo desta temática, através de um trabalho de campo intensivo, que permitiu, ao longo de vários anos, a recolha de dados junto das comunidades locais, ao mesmo tempo que procurava através de diálogo permanente, a confirmação por profissionais das áreas de história e arqueologia.
Passeios, caminhadas, peregrinações ou qualquer outra forma de senderismo, é uma boa maneira de divulgar, recuperar e manter a rede viária que uniram e ligaram povos através de montanhas, planícies, rios e vales, no fundo proporcionaram a comunicação física entre populações, agricultores, pastores e rebanhos, comerciantes, peregrinos salteadores e exércitos vitoriosos ou perdedores conforme crescente ou queda de impérios!
Este itinerário parte da sé de Viseu, passa na estátua de Viriato junto à sua Cava e segue para as Portas de Montemuro, na serra com o mesmo nome que no dizer de Amorim Girão é “ a mais desconhecida de Portugal” e que possui o troço mais longo entre muros com lage de pedra num percurso fantástico ( tecnologia romana). Não muito longe, os locais onde nasceram Geraldo Geraldes “ o sem pavor”, o “ Giraldo” que deu o nome à célebre praça de Évora e o explorador Serpa Pinto. A travessia do Douro, na mudança do território da Lusitania para a Galecia, guia-nos para a Civitas Romana de Tongobriga, onde se pode visitar toda a Área Arqueológica do Freixo, com as suas ruinas preservadas, espelho de uma grande capital administrativa da região, do império romano. De lá segue para S. Nicolau de Canaveses com a sua albergaria e gafaria de D. Mafalda, que apoiava os peregrinos de Santiago. A caminho da sé de Braga, ficam ainda, o mosteiro de Bustelo, a grande veiga de Creixomil (Guimarães), as ruinas da casa que o salteador “ Zé do telhado”, natural da Castelões, Penafiel, usava para executar os seus assaltos na zona e o Campo Escola de Fraião do CNE, onde foi feito o primeiro acampamento escuteiro no país.
Tendo em conta os objetivos da Associação, pretende-se apresentar uma proposta alargada em termos de território, abarcando as regiões de Viseu a Braga, onde se mantiveram até aos nossos dias diversos percursos, testemunhos históricos de vivências, tradições, crenças das gentes que por cá foram vivendo e passando, deixando rastos que ainda hoje podemos vislumbrar. O troço viário sobre o qual incide o interesse de valorização corresponde, grosso modo, à estrada que colocava em contacto, no período romano, duas importante cidades ibéricas capitais de Conventus – Bracara Augusta (Braga, Portugal) e Emerita Augusta (Merita, Espanha).
É uma travessia de mais de vinte rios e ribeiros, três distritos, 4 dioceses, 10 concelhos e mais de 45 freguesias com as suas particularidades e pontos de interesse variados.
Concelhos e respectivas freguesias atravessadas pelo percurso Viseu-Tongobriga-Braga
